Há cerca de 3 meses eu e outras pessoas reparámos numa colónia de gatinhos num terreno murado, em frente à Estação de Cantanhede. Começámos a alimentá-los e a deixar água e até em improvisos desajeitados, tentar capturá-los para adoção. Ainda não sabíamos que nesta cidade não existe abrigo municipal. A mãe, uma siamesa, foi recuperada por uma familiar da dona (que se encontra no estrangeiro) mas adotou apenas uma das 7 crias. Ficaram 6 abandonadas e em idade de desmame. Confrontados com a proprietária do terreno e mais tarde o marido desta, ficámos siderados com a reação hostil dos mesmos: incomoda-os muito ver pessoas alimentar ali os animais por cima do muro e argumentaram: se continuarem a alimentá-los eles nunca vão sair daqui! (do SEU terreno) Ora, foram devidamente esclarecidos que a mãe havia escapado à dona e foi parir justamente ali; foi onde nasceram e não tinham para onde ir, foi onde foram alimentados pela mãe nas suas curtas vidinhas… Resposta pronta da dona do terreno: “Os gatos? Eles “desenrascam-se!”
Mais tarde permitiram que eu entrasse no terreno mas houve um mal-entendido; julgaram que nesse mesmo dia eu os levasse dali! Ora quando fui surpreendida pelo proprietário no seu “território” (a recolher o lixo que os voluntários deixavam a par com alimento e água) assim como a lavar as vasilhas que só podiam ser atiradadas lá para dentro, fui ameaçada que podiam chamar a polícia por invasão de propriedade… eu e noutra ocasião, uma senhora de 70 anos também!
O patético nestas pontuais obstruções dos proprietários foi uma valiosa lição de Direito; a sua jovem e bela filha declarou ser estudante de Direito e “instruiu-me” que é proibido invadir propriedade privada!… E a mãe repetiu o dissera umas semanas antes: “os gatos desenrascam-se!”
Foi aqui que perdi a oportunidade de sugerir à jovem estudante que aproveitasse o desafio e na sua futura tese de doutoramento se debruçar sobre a questão “Direito de Propriedade versus Direitos dos Animais” no sentido de abrir precedentes e flexibilizar os termos da Lei – num consenso para evitar molestar uns ou outros…
P.S.Quando referi que a situação se encontrava nas redes socias, apressaram-se a dizer que até gostavam de animais, só tínhamos era de arranjar maneira de os tirar de lá, que até nos davam autorização para entrar. Tarde também me ocorreu lembrá-la que a obrigação cívica é de todos os cidadãos e sobretudo dos donos do terreno, que não estão limitados por autorizações para lá entrar, já basta as crias serem assustadiças e muito esquivas, o que dificulta muito um resgate.
O que fazer? Nós agimos independente uns dos outros . Já houve pessoas que se viraram para outros animais necessitados e desistiram destes porque simplesmente não têm força para lidar com esta hostilidade e comportamento anti-social. Dizem que “este mau karma lhes faz muito mal à saúde”.
Obrigada desde já pela atenção por um assunto que anda a revoltar as pessoas que tentam ajudar mas sentem-se impotentes!